Este é um post dedicado exclusivamente à minha irmã, Ana Maltez. Não podia deixar de ser! É a minha irmã mais nova...mas não parece. É pequenina...mas apenas de tamanho. É frágil...mas não quebra. É a minha única irmã...desenganem-se...é a minha!
Viveu intensamente um amor com o Rafael, o seu príncipe encantado a quem foi ela que deu o primeiro beijo, rompendo com todas as tradições! O que não surpreende...São cúmplices, amigos, apaixonados. Não se lhes conhecem zangas ou arrufos. São, assim, o casal perfeito, com tudo para viver! Planeiam uma casa, 2 filhos (se ele tivesse o segundo, como ela lhe dizia tantas vezes). Planeiam amar-se para a vida inteira.
E assim se passam 7 anos de amor, cumplicidade, harmonia, companheirismo, amizade, dedicação, entrega e muitas fotos cheias de caretas (porque era a imagem de marca dele).
Mas, e porque há sempre um mas, do outro lado, do lado obscuro, sempre esteve silencioso o cancro contra o qual sempre lutou o Rafael, sempre lutaram, aliás, os dois. O importante foi sempre o bem-estar e a felicidade do Rafa, do seu Rafa. Por isso, decidiu não contar nada ao homem que amava quando um dia o médico a chamou de parte e lhe disse que restavam dois anos de vida à outra metade do seu coração. Ficou sem chão! Ficou sem saber o que dizer e o que fazer. Como encarar daí para a frente a pessoa que é tudo para nós? Como continuar a alimentar os projectos e os planos comuns? Como não chorar à frente dele?
Lembro-me dessa passagem de ano como aquela em que, a caminho de minha casa, me virei para o Miguel, o meu namorido e lhe disse: temos de voltar, tenho de lhe dar um abraço e prometer que fica tudo bem. Voltei para trás e passei com ela...por ela. O Rafa era da família, caramba. Com que direito entra uma maldita doença na nossa família e leva um dos nossos? Bem, já o tinha feito antes. E fez novamente! E Deus que me desculpe, mas não posso deixar de ficar mais uma vez revoltada com ele. Não posso!
Sempre tivemos arrufos, afinal somos irmãs. Mas há uma altura das nossas vidas em que paramos e pensamos que ter um arrufo com a irmã é uma perda de tempo, porque é estar a perder tempo vital com uma parte do nosso coração. E sim, esta adversidade mudou-me, acho que nos mudou às duas. Ao mesmo tempo, sempre a admirei, sempre foi tão forte. Sempre foi tão grande! Mas para mim, continuava a ser a minha pequenina e continuava a ter vontade de a abraçar e ela a ter vontade que eu a deixasse em paz. Consigo ser tão persistente por vezes!!! :)
O nosso Rafa é, portanto, a perda inestimável da sua vida. Mas também das nossas, porque temos saudades dele. Temos saudades das suas brincadeiras, das suas piadas futebolísticas, da sua presença, unicamente e tão só do seu sorriso e da sua atenção e disponibilidade para os outros. [A propósito, ontem carreguei por ti os sacos da vizinha do 2.º andar que sente a tua falta, hein?] Aquele que para mim era o cunhado perfeito levou com ele uma parte de todos nós, aquela que nos faz lembrar agora, diariamente, que a vida é demasiado especial para ser levada com discussões ou mesquinhices desnecessárias.
Esta minha fortaleza [chame-te assim quem quiser, mas fui eu que te comecei a chamar assim primeiro] lançou no dia 7 de Janeiro o seu tributo a este grande amor: o livro "Para ti Campeão". Este será sempre um dia especial. Afinal, fariam 7 anos de namoro. Por isso, mais significativo não podia ser! Foi esta a forma de catalisar tanta dor e tanto sofrimento. Foi escrevendo para ele. Contando-lhe tudo o que não contou, explicando porquê. Não que tivesse ficado alguma coisa por dizer, porque não ficou. Tudo ficou sempre dito e quando ele já não podia falar, o sorriso bastava, um olhar entre os dois e ela sabia que ele ainda estava ali para ela. Neste momento, ele deve estar inchado de orgulho como todos nós. E farto de rir tambem.
Foi um dia bonito, repleto de pessoas amigas numa sala que se tornou pequena para o coração da minha irmã. Foi uma tarde quentinha. Por isso, desde já agradeço a todos (e foram muitos) os que estiveram presentes e os que, mesmo não podendo estar, demonstraram o seu carinho para com ela e, no fundo, para com todos nós. E estou grata, igualmente, a todos os que nestes últimos dias têm demonstrado tanto carinho e afeição por esta mulher coragem. Porque ao fazerem bem à minha irmã, fazem bem a todos nós. E ficamos preenchidos por saber que ela está novamente a ganhar chão.
Como alguém me disse hoje "Toda a gente pode ter uma doença como esta…. Mas não a felicidade de ter alguém como a tua irmã". Esta frase tocou-me porque não podia ser mais verdadeira. Tiveram-se
um ao outro durante 7 anos e viveram o seu conto de fadas.
Agora, quero fazê-la sorrir! Quero que siga em frente. E um dia...um dia eu sei que isso vai acontecer...porque ela é a nossa campeã!!!