terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Para ti campeã!

Este é um post dedicado exclusivamente à minha irmã, Ana Maltez. Não podia deixar de ser! É a minha irmã mais nova...mas não parece. É pequenina...mas apenas de tamanho. É frágil...mas não quebra. É a minha única irmã...desenganem-se...é a minha!

Viveu intensamente um amor com o Rafael, o seu príncipe encantado a quem foi ela que deu o primeiro beijo, rompendo com todas as tradições! O que não surpreende...São cúmplices, amigos, apaixonados. Não se lhes conhecem zangas ou arrufos. São, assim, o casal perfeito, com tudo para viver! Planeiam uma casa, 2 filhos (se ele tivesse o segundo, como ela lhe dizia tantas vezes). Planeiam amar-se para a vida inteira.

E assim se passam 7 anos de amor, cumplicidade, harmonia, companheirismo, amizade, dedicação, entrega e muitas fotos cheias de caretas (porque era a imagem de marca dele).


Mas, e porque há sempre um mas, do outro lado, do lado obscuro, sempre esteve silencioso o cancro contra o qual sempre lutou o Rafael, sempre lutaram, aliás, os dois. O importante foi sempre o bem-estar e a felicidade do Rafa, do seu Rafa. Por isso, decidiu não contar nada ao homem que amava quando um dia o médico a chamou de parte e lhe disse que restavam dois anos de vida à outra metade do seu coração. Ficou sem chão! Ficou sem saber o que dizer e o que fazer. Como encarar daí para a frente a pessoa que é tudo para nós? Como continuar a alimentar os projectos e os planos comuns? Como não chorar à frente dele?


Lembro-me dessa passagem de ano como aquela em que, a caminho de minha casa, me virei para o Miguel, o meu namorido e lhe disse: temos de voltar, tenho de lhe dar um abraço e prometer que fica tudo bem. Voltei para trás e passei com ela...por ela. O Rafa era da família, caramba. Com que direito entra uma maldita doença na nossa família e leva um dos nossos? Bem, já o tinha feito antes. E fez novamente! E Deus que me desculpe, mas não posso deixar de ficar mais uma vez revoltada com ele. Não posso!

Sempre tivemos arrufos, afinal somos irmãs. Mas há uma altura das nossas vidas em que paramos e pensamos que ter um arrufo com a irmã é uma perda de tempo, porque é estar a perder tempo vital com uma parte do nosso coração. E sim, esta adversidade mudou-me, acho que nos mudou às duas. Ao mesmo tempo, sempre a admirei, sempre foi tão forte. Sempre foi tão grande! Mas para mim, continuava a ser a minha pequenina e continuava a ter vontade de a abraçar e ela a ter vontade que eu a deixasse em paz. Consigo ser tão persistente por vezes!!! :)

O nosso Rafa é, portanto, a perda inestimável da sua vida. Mas também das nossas, porque temos saudades dele. Temos saudades das suas brincadeiras, das suas piadas futebolísticas, da sua presença, unicamente e tão só do seu sorriso e da sua atenção e disponibilidade para os outros. [A propósito, ontem carreguei por ti os sacos da vizinha do 2.º andar que sente a tua falta, hein?] Aquele que para mim era o cunhado perfeito levou com ele uma parte de todos nós, aquela que nos faz lembrar agora, diariamente, que a vida é demasiado especial para ser levada com discussões ou mesquinhices desnecessárias.


Esta minha fortaleza [chame-te assim quem quiser, mas fui eu que te comecei a chamar assim primeiro] lançou no dia 7 de Janeiro o seu tributo a este grande amor: o livro "Para ti Campeão". Este será sempre um dia especial. Afinal, fariam 7 anos de namoro. Por isso, mais significativo não podia ser! Foi esta a forma de catalisar tanta dor e tanto sofrimento. Foi escrevendo para ele. Contando-lhe tudo o que não contou, explicando porquê. Não que tivesse ficado alguma coisa por dizer, porque não ficou. Tudo ficou sempre dito e quando ele já não podia falar, o sorriso bastava, um olhar entre os dois e ela sabia que ele ainda estava ali para ela. Neste momento, ele deve estar inchado de orgulho como todos nós. E farto de rir tambem.


Foi um dia bonito, repleto de pessoas amigas numa sala que se tornou pequena para o coração da minha irmã. Foi uma tarde quentinha. Por isso, desde já agradeço a todos (e foram muitos) os que estiveram presentes e os que, mesmo não podendo estar, demonstraram o seu carinho para com ela e, no fundo, para com todos nós. E estou grata, igualmente, a todos os que nestes últimos dias têm demonstrado tanto carinho e afeição por esta mulher coragem. Porque ao fazerem bem à minha irmã, fazem bem a todos nós. E ficamos preenchidos por saber que ela está novamente a ganhar chão.

Como alguém me disse hoje "Toda a gente pode ter uma doença como esta…. Mas não a felicidade de ter alguém como a tua irmã". Esta frase tocou-me porque não podia ser mais verdadeira. Tiveram-se
um ao outro durante 7 anos e viveram o seu conto de fadas.


Agora, quero fazê-la sorrir! Quero que siga em frente. E um dia...um dia eu sei que isso vai acontecer...porque ela é a nossa campeã!!!





1 comentário:

Cláudia Pinto disse...

Tu e a tua mana deixam-me assim sem palavras. Este texto está mesmo muito bonito. Sim, também eu a chamo de fortaleza e não importa que tenhas sido tu a primeira pois acabaste por nos inspirar a todos nós, os amigos que adoram a Ana e que estarão sempre aqui. Por isso, não precisas de agradecer. Hoje pela Ana. Amanhã, a Ana por nós... Não consigo deixar de me emocionar. É uma história bonita demais para fazer conter as lágrimas (pelo menos quando a tua mana não está presente porque aí obrigo-me a sorrir tal como ela fazia quando visitávamos o Rafa no IPO). Julgo que tudo isto vai trazer vários objectivos na vida da Ana e que se denota que a nossa pequena grande mulher tem coragem para os enfrentar sem medos! Claro que tu e ela discutiram e tiveram arrufos. Todos os manos têm. Todas as famílias têm. Mas o que é mais mágico é verificar que há momentos na vida em que tudo se questiona e nos faz parar. Discutir para quê? Lamentar para quê? Vivi várias situações de cancro de perto e uma muito semelhante (com a diferença da zona do corpo atingido e do desfecho); conheço muito bem aquele piso do IPO e consigo ter noção de 1/3 do que a Ana passou... Foi também essa vivência que fez a Ana aproximar-se de mim e tantas conversas tivemos sobre o cancro. Não é equiparável pois não perdi o meu "namorido" como por acaso o chamo (achei piada a referires essa expressão no teu comentário) e tenho-o junto a mim. Mas garanto-te que essa vivência nos fez crescer, passar por duras provas em começo de namoro mudando-nos enquanto pessoas. Devo a esta doença e ao facto do meu namorido ter passado por ela a personalidade que tenho hoje, a sensatez com que vejo a vida e a forma como enfrento os problemas sem pensar muito mas agundo rapidamente. Se continuo a ter medos? Claro. Se me orgulho imensamente de um dia ter sido colocada no lugar ao lado da Ana no avião para uma viagem de trabalho? Todos os dias! Se foi uma cumplicidade à primeira vista? Sim! Se foi uma viagem especial? Claro que sim. É óbvio que é uma rara oportunidade na vida ter uma amiga tão coerente, forte, matura para a idade, linda por dentro e por fora e capaz de amar incondicionalmente sem receios. A tua irmã ajuda qualquer um que se torne seu verdadeiro amigo a ser uma melhor pessoa. E é impossível ficar-lhe indiferente. Portanto, é muito fácil perceber o amor do Rafa por ela. Tal como é relativamente simples perceber de onde vem esta energia e força da tua irmã. Deve-se a uma família bem estruturada que a ajuda a erguer. Aos pais, a ti, à avó... É muito mas muito fácil ficar apaixonado pela vossa família e percebermos portanto porque é que a Ana sai com tantas características boas. Sei que a Ana vai ser um feliz um dia. E que o é sempre que relembra o Rafa. Admiro-a profundamente, emociono-me com as suas entrevistas e farei tudo o que estiver ao meu alcance para a ajudar. Não lhe posso dar o mundo que ela acabou de perder mas vou tentando construir pequenos mundinhos para lhe roubar o seu sorriso tão característico. É incrível ver a quantidade de comentários e elogios de pessoas que não a conheciam e que se cruzaram com o livro, com as entrevistas que tem dado e com o seu enorme testemunho. A Ana é brilhante. Mesmo. Merece o melhor do mundo e que a vida a recompense desta grande injustiça que se cruzou na vida dela. Infelizmente, não há milagres. Infelizmente, o final não foi feliz. Mas felizmente a tua mana tem a capacidade de homenagear o Rafa de forma tão bonita e de o continuar a amar como no primeiro dia. E isto dificilmente se encontra na vida. E que sorte têm os que se cruzam com ela, os que são seus amigos, os que conseguem partilhar momentos da vida consigo. E Parabéns a ti pela teimosia e por estares sempre lá quando ela precisa e mesmo quando ela te diz que não precisa. Emocionaste-me com o texto tal como me emocionas cada vez que anuncias publicamente o amor que sentes pela mana. Gostei muito desta tua homenagem. Beijinhos grandes às duas. <3